Notação: correspondenciaocruzeiro.07
Data: 11 de janeiro de 1955
Título: Carta de Skyar para João Martins (p. 3)
Legenda: Terceira página da carta de Skyar, de São Paulo (SP), para o repórter João Martins, da revista O Cruzeiro.
Acervo: Paulo Henrique Baraky Werner
Procedência: Aquisição de Renato Ribeiro (http://loja.philatelia.com.br)
Digitalização: Paulo Henrique Baraky Werner, 3 de agosto de 2023
Dimensões: 2456 x 3482 pixels
Tamanho: 7,39 MB
Formato: JPG
Crédito: Revista OVNI Pesquisa
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Observações: Lê-se: “cadêmico, menos arguto que eu?… ou terá redigido aquilo por razões óbvias, que devem esconder a verdadeira intenção, sem levantar suspeitas?… Já não bastam os transtornos e as reviravoltas sofridas pela nação, quando das más administrações passadas, que deram justo motivo à implantação da ditadura Vargas? E, diante dessa aberração, pergunto: com que pagará o governo brasileiro os empréstimos feitos ao estrangeiro?… Já temos, é certo, impostos demais, às costas do povo consumidor, que é quem já carrega o peso bem maior do que suas forças o permitem, agravado pelo abuso da exploração de ambiciosos e vis, que vendo a fraqueza desse povo se lançam na voragem para arrancar-lhe as entranhas!… Deveria haver uma reciprocidade sincera mas, não há, entre as classes e os homens que as formam, entre o governo e o povo, porém, vemos uma barreira levantar-se sempre, e maldosamente, para separar o que governa dos que são governados… recebendo estes só desilusões ao passo que aquele é apontado como culpado das misérias sofridas pela coletividade nacional, ficando os verdadeiros culpados, escondidos sob o manto da hipocrisia usada para conseguir atingir os ablativos antevisados, para os quais se determinaram há muito… e, vemos este povo farto de obediência, receber a canga para puxar um carro de provações, ilusões que a democracia lhe oferece porque não tem quem lhe abra os olhos e o guie para a verdade… enganando-se a si mesmo e submetendo à vontade misteriosa de um destino que não vem de Deus mas, sim, de Satanás, através às fontes em que se embebeda da volúpia insana, nos seus momentos de ócio, quando é oportunamente instilado em seu cérebro, ódio e mais ódio para que se irrequieta e passe à desordem até que haja saciado o apetite de uma inteligência mais privilegiada… Serão os brasileiros todos tão néscios e aloucados que não saibam como e onde encontrar sossego para viver ama vida tão majestosa como o é o país de sua nacionalidade?… serão, o acadêmico Athayde, o repórter João Martins, o padre Wilson, os homens do Governo, os políticos, os bons e limpos de coração mais cegos que eu, não vendo na realidade do momento, no abuso, no escárnio à autoridade constituída, na exploração da paciência e boa vontade, o trabalho de uma mão misteriosa que tende a sufocar o fôlego de nossa gente, e destruir aquilo que nossos heróis criaram ao preço do sacrifício da vida, em lutas sangrentas para manter a hegemonia da pátria na união de seus filhos!?… Isto tudo que vemos e assistimos de braços cruzados, até parece uma anedota de mau gosto atirada aos ouvidos moucos e lerdos do povo… Ser ou não ser, o “fundo do problema” é inatingível mas, bem poderia está no ver, ouvir e não calar sobre a existência desse fantasma que procura em todas as pátrias e entre os povos, confundir e cansar, até à undécima hora, a tornar caótica a situação, e levar pela ilusão, pela força, pela desorganização completa de toda a vitalidade da espécie humana ao completo desfalecimento, propiciando a si e aos que lhe obedecem, o momento exato para constituir o esperado e messiânico governo universal… que a atualidade nos mostra possível dada a anarquia que é pouco a pouco estabelecida em tudo, dentro e fora do país, nas greves, aumentos de salários, aumentos de preços, crimes horrendos e sensacionalmente apresentados pelos periódicos, notícias alarmantes levadas com rapidez a todos os pontos do planeta, a deixarem em “suspense” e alheados de tudo as consciências que estão ávidas de prazer e ambiciosas por mais fama e riquezas, nos deslocamentos migratórios de povos, no desemprego, no fluxo de progresso da indústria e total desaparecimento da agricultura, enfim, na falta de fé do homem que se deixa levar no torvelinho das paixões até a perdição, identicamente, como somos testemunhas mudas e apáticas da desorganização do nosso povo, que, na ilusão da vida confortável, admite a possibilidade de uma união nacional e um futuro promissor… A verdade é que iremos à destruição, à guerra civil, ou coisa semelhante pois, não há governo, por mais forte que seja, que suporte o impacto da realidade que avilta e aterroriza seus desditosos súditos; somos um povo”
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